Pular para o conteúdo principal

Ataque hacker atinge empresa ligada ao sistema bancário brasileiro

Banco Central confirmou nesta quarta-feira (2) que a C&M Software, empresa de tecnologia que atua na comunicação entre instituições financeiras, foi alvo de um ataque cibernético. A empresa é usada por bancos e outras instituições conectadas ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), incluindo operações de liquidação via Pix.

Segundo a autoridade monetária, nenhum valor administrado diretamente pelo Banco Central foi afetado. Ainda assim, o BC determinou o desligamento do acesso das instituições financeiras às infraestruturas operadas pela C&M Software e informou que já iniciou uma apuração do caso.

pix
Empresa atingida por ataque hacker atua no Sistema de Pagamentos Brasileiro, o que inclui operações de liquidação via Pix (Imagem: Photo For Everything / Shutterstock.com)

Em nota ao g1, o Banco Central afirmou que a C&M Software comunicou um ataque à sua infraestrutura tecnológica. A empresa presta serviços a instituições provedoras de contas transacionais que não possuem meios próprios de conexão. Com a notificação, o BC determinou o desligamento imediato do acesso das instituições às infraestruturas operadas pela C&M.

Até o momento, a dimensão do prejuízo não foi oficialmente confirmada. No entanto, especialistas em segurança ouvidos pela Folha de S. Paulo estimam que os valores desviados possam ultrapassar R$ 1 bilhão.

Contas de reserva foram acessadas pelo ataque hacker

  • Em nota à imprensa, a BMP, uma das clientes da C&M, informou que o ataque comprometeu a infraestrutura da prestadora de serviços e permitiu o acesso indevido a contas de reserva de seis instituições financeiras — entre elas, a própria BMP.
  • Essas contas são mantidas diretamente no Banco Central e utilizadas exclusivamente para liquidação interbancária.
  • A empresa reforçou que o incidente não teve impacto sobre os recursos de clientes e que os saldos mantidos dentro da BMP não foram acessados.
  • Segundo a nota, a instituição adotou medidas legais e operacionais e conta com colaterais suficientes para cobrir integralmente o valor envolvido, sem prejuízo às suas atividades ou a parceiros comerciais.

O que é liquidação interbancária?

Liquidação interbancária é o processo pelo qual instituições financeiras transferem recursos entre si para concluir operações realizadas por seus clientes. Quando uma pessoa faz um pagamento ou transferência para alguém que tem conta em outro banco, por exemplo, os valores precisam ser compensados entre as instituições envolvidas.

Isso é feito por meio das contas de reserva mantidas no Banco Central, usadas exclusivamente para esse tipo de movimentação — sem envolver diretamente o saldo das contas dos clientes.

C&M foi desconectada do ambiente do BC

A C&M Software foi desconectada do ambiente do Banco Central logo após a detecção do ataque. A empresa é responsável pela mensageria — sistema que permite a troca segura e automatizada de dados entre sistemas ou instituições — que interliga instituições financeiras ao SPB, funcionando como intermediária tecnológica para operações como o Pix e outras transações de liquidação.

A empresa também se manifestou em nota pública. Segundo a CMSW, ela é vítima direta da ação criminosa, que incluiu o uso indevido de credenciais de clientes para tentar acessar de forma fraudulenta seus sistemas e serviços.

“A CMSW confirma que colabora ativamente com as autoridades competentes, incluindo o Banco Central e a Polícia Civil de SP, nas investigações em andamento”, diz a nota assinada pelo diretor comercial da empresa, Kamal Zogheib.

A companhia também informou que, por orientação jurídica e em respeito ao sigilo das apurações, não comentará detalhes do processo, mas reforçou que todos os seus sistemas críticos seguem íntegros e operacionais, e que as medidas previstas nos protocolos de segurança foram integralmente executadas.

banco central
Banco Central desconectou a C&M Software de seu ambiente após detecção do ataque (Imagem: Brenda Rocha – Blossom / Shutterstock.com)

Investigações estão em andamento

Segundo informações divulgadas pela CNN, a Polícia Federal (PF) já está conduzindo diligências para apurar a autoria e o impacto do ataque. Andrei Rodrigues, o diretor-geral da PF, confirmou à GloboNews que a PF deve abrir um inquérito para investigar o ataque hacker. Procurada pelo Olhar Digital, a corporação afirmou que não comenta nem confirma investigações em andamento.

hacker em frente a um computador
Ataque hacker está sendo investigado pelas autoridades competentes (Imagem: Ana Luiza Figueiredo via DALL-E / Olhar Digital)

A reportagem também procurou o Banco Central e a C&M Software, mas ainda não obteve retorno. Esta matéria será atualizada assim que houver novos posicionamentos oficiais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cibersegurança: Confiança zero… desconfiança por omissão

  Atualmente, todas as empresas têm presença digital. Embora este facto traga inúmeros benefícios, também acarreta uma série de riscos. Os cibercriminosos estão a encontrar cada vez mais formas de contornar as medidas de segurança e aceder aos dados. Se a proteção não for suficientemente forte, os dados das organizações, dos seus clientes e dos seus parceiros podem ser comprometidos, com consequências terríveis para as empresas. A crescente digitalização, juntamente com a evolução das táticas dos cibercriminosos, está a resultar num aumento dos incidentes de cibersegurança. Esta tendência preocupante é demonstrada no último Relatório de Violação de Dados, realizado pelo Internet Theft Resource Center (ITRC), que regista 2.365 ciberataques em 2023 que afetaram mais de 300 milhões de vítimas. Com este conhecimento, é essencial que as empresas tomem medidas e protejam os seus sistemas para evitar que utilizadores não identificados acedam a informações sensíveis. Só assim será possível...

Apple Intelligence

  O iOS 18.2 trouxe  uma série de novos recursos dentro da suíte Apple Intelligence   e isso também está exigindo mais armazenamento livre nos iPhones, iPads e Macs compatíveis. Conforme as novas diretrizes da Apple, agora  o usuário precisa manter ao menos 7 GB de memória livre  no dispositivo caso deseje usar as funcionalidades de Inteligência Artificial. Ou seja, um aumento considerável em relação aos 4 GB de armazenamento  exigidos anteriormente no iOS 18.1 . A Apple diz que essa mudança é necessária porque muitas das funções de IA são processadas localmente pela NPU Apple Silicon, algo que exige mais espaço de memória. Caso o usuário não tenha os 7 GB disponíveis, ele será impedido de usar a IA para gerar emojis (Genmoji) ou conversar com a nova Siri, que tem o ChatGPT integrado.   Recursos mais "simples", como a tradução ou resumo de textos, também deixam de funcionar. Na prática, usuários que procuram comprar os novos aparelhos da linha  iP...

“internet zumbi”

 A ascensão do slop, diz ele, transformou a rede social em um espaço onde “uma mistura de bots, humanos e contas que já foram humanos, mas não se misturam mais para formar um site desastroso onde há pouca conexão social”. Nick Clegg, presidente de assuntos globais da empresa-mãe do Facebook, Meta, escreveu em fevereiro que a rede social está treinando seus sistemas para identificar conteúdo feito por IA. “Como a diferença entre conteúdo humano e sintético fica turva, as pessoas querem saber onde está o limite”, escreveu ele. O problema começou a preocupar a principal fonte de receita da indústria de mídia social: as agências de publicidade que pagam para colocar anúncios ao lado do conteúdo. Farhad Divecha, diretor-gerente da agência de marketing digital AccuraCast, com sede no Reino Unido, diz que agora está encontrando casos em que os usuários estão sinalizando erroneamente os anúncios como slop feitos de IA quando não estão. “Vimos casos em que as pessoas comentara...