Muitos ficaram surpresos. Alguns, decepcionados. Outros tantos, revoltados. Já eu ergui a placa do EU JÁ SABIA. Foram revelados os preços dos primeiros smartphones da Xiaomi a desembarcarem no mercado brasileiro de forma oficial, e como já era de se imaginar (quem pensou o contrário está bem por fora sobre como funciona o mundo da tecnologia no Brasil), os preços estão salgados.
O Redmi Note 6 Pro (4 GB RAM + 64 GB) tem preço inicial sugerido de R$ 1.999, e o Pocophone F1 (6 GB RAM + 128 GB) vai custar por aqui R$ 2.999. Lembrando que os dois modelos chegarão ao mercado brasileiro pelas mãos da empresa DL, e a Ricardo Eletro é a primeira loja do varejo brasileiro a oficialmente comercializar os dispositivos por aqui, e fará isso “exclusivamente” nas lojas físicas da empresa, ou seja, eles não vão vender no e-commcerce (pelo menos por enquanto) para lucrar um pouco mais por não precisar custear despesas de logística de entrega.
Sim. Está caro. Mas se você alimentou a ilusão que esses dispositivos manteriam os preços que você já conhecia e que foram estabelecidos pelo mercado informal, lamento em dizer, mas você se enganou, e bonito.
Os números são frios, e falam por si
É algo simplesmente impossível encontrar um smartphone importado como o Pocophone F1 ser comercializado de forma oficial no Brasil por menos de R$ 2.000, tal e como encontramos ao longo de meses por aqui pelas mãos dos importadores. E por um único motivo: a conta jamais vai fechar.
Eu pego como exemplo justamente o Pocophone F1 de 6 GB + 128 GB. Pegando o melhor cenário possível de momento (e considerando que a cotação do dólar no dia em que eu produzi esse post – se você está lendo isso no futuro – era de R$ 3.81), o dispositivo que custa lá fora US$ 300 vai custar R$ 1.143. Considere todas as despesas do importador do produto (que, diferente do usuário doméstico, deve ir buscar no Paraguai ou em algum outro grande centro brasileiro, como São Paulo), os custos finais do smartphone podem alcançar os R$ 1.500.
Aliás, R$ 1.500 é mais ou menos o valor que um consumidor final que opta por importar o dispositivo paga quando compra de um site internacional. Agora, coloque o eventual lucro que alguém quer obter por vender o produto no Brasil, e podemos chegar em um valor final que ronda entre R$ 1.899 e R$ 1.999. Se bem que eu já encontrei o mesmo Pocophone F1 por valores ainda menores.
Mas vamos ficar no valor abaixo dos R$ 2.000. Certo?
Agora, os dispositivos vindos pela DL são importados, passaram pela Anatel para homologação, contam com custos de logística de distribuição para chegar ao Ricardo Eletro e qualquer outro e-commerce que decide vender o produto por aqui, e tanto DL como Ricardo Eletro querem obter lucros com a comercialização dos dispositivos por aqui. Ah, sim… e soma o famigerado “fator Brasil” na equação.
E tudo isso explica (mas não justifica) o valor de R$ 2.999 para o Pocophone F1 no Brasil.
Sim. Caro, se comparado com os US$ 300 pedidos lá fora pelo dispositivo. Mas essas são as regras do jogo, e quem está interessado em ter uma garantia de 12 meses e assistência técnica da DL em caso de problemas, terá que pagar esse preço.
Não existe almoço grátis. Alguém sempre paga a conta
Eu sempre achei que seria impossível alcançar a mesma relação custo/benefício oferecida pelos modelos importados e métodos alternativos. Logo, nunca aplaudi de pé a chegada da Xiaomi por aqui por esses meios, pois o cenário jamais seria dos mais vantajosos para o consumidor brasileiro.
Resultado: a chegada de modelos tão populares como o Redmi Note 6 Pro e do Pocophone F1 se tornaram uma decepção para muita gente. E simplesmente não vai dar certo: o mercado informal e de importação vai continuar a vender com muita força por aqui, e a DL corre o risco de ter telefones encalhados nos estoques, porque quem compra Xiaomi a preços baratos vai querer manter esse perfil de consumo pelo maior tempo possível.
Apenas como comparativo final: o preço do Pocophone F1 está tão caro, que nem precisa ser um especialista em tecnologia para concluir rapidamente que, por R$ 2.999 é muito mais negócio comprar o ASUS Zenfone 5zde 8 GB de RAM + 256 GB (com o mesmo Snapdragon 845), que está custando hoje o mesmo valor em alguns e-commerces do Brasil.