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Smart Tablet T7: um Android que só decepciona


Tablets são como carros: as “Ferrari” e “Lamborghini” como o iPad 2 eGalaxy Tab 10.1 podem chamar a atenção nas vitrines, mas quem domina as ruas são os modelos populares, muito mais baratos mas ainda assim suficientes para atender a todas as necessidades dos usuários no dia-a-dia.
O “Smart Tablet Serie T7”, da Digital Life, promete ser um destes modelos: por R$ 699 (preço sugerido pelo fabricante) você leva para casa um tablet Android com tela de 7”, capaz de navegar na web, reproduzir músicas e vídeos, exibir fotos e ler eBooks.
Parece um bom negócio, já que modelos similares como o primeiroGalaxy Tab, da Samsung, custam R$ 300 a mais. Infelizmente, o produto é cheio de falhas que o transformam rapidamente de “negócio da China” em decepção.
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Smart Tablet Serie T7: preço atraente
Hardware
À primeira vista o Smart Tablet parece um iPad que encolheu na secadora. O design é virtualmente idêntico na forma, cor e até posição dos botões, só que menor, medindo 19,8 x 12,7 x 1,6 cm, e com peso de cerca de 370 gramas.
A frente é dominada pela tela, com um único botão redondo centralizado logo abaixo. No lado oposto fica a câmera frontal de 2 MP. Na lateral direita ficam o controle de volume e um botão Menu, e há um botão para ligar o tablet (ou ligar/desligar a tela) no canto superior direito.
Na parte de baixo ficam dois alto-falantes pequenos (que soam como latinhas), um conector de força (para recarregar a bateria, não-removível), conector para fone de ouvido, um slot para cartões microSD e uma porta para acessórios.
A porta é usada por um acessório incluso na embalagem, que mais parece um modem 3G e traz duas portas USB tradicionais e uma porta RJ-45 para conexão de um cabo de rede. É possível plugar um pendrive ou modem 3G a uma destas portas, num arranjo que não fica nada elegante. Os modelos compatíveis são listados no manual (Huawei E220/E230/E169G/E160X/E1750), mas infelizmente não tínhamos nenhum deles à mão para um teste.
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Uso de um modem 3G exige solução nada elegante
A tela de 7 polegadas tem resolução de 480 x 800 pixels (a mesma de smartphones como o Samsung Galaxy S) e tecnologia resistiva. Ou seja, em vez de apenas tocar nela para interagir com a interface, é necessário pressioná-la. Por isso a canetinha inclusa na embalagem, que facilita as coisas, embora não seja difícil usar os dedos.
A qualidade de imagem é apenas passável: lembra os monitores LCD de notebooks de cinco anos atrás, antes de tecnologias como telas glossy e iluminação LED serem inventadas. A tela é fosca, texto tem pouca nitidez, as cores não tem vida e o ângulo de visão é estreito: o ideal é colocá-la exatamente paralela aos olhos, e se você incliná-la em 45 graus e as cores já começam a distorcer e a imagem a escurecer. Se você estiver sentado numa cadeira e olhar para o tablet ligado sobre a mesa, verá muito pouco da tela.
Falando nela, fiquei surpreso ao notar que suporta multi-toque (dois pontos), usado para ampliar imagens ou páginas web com o famoso gesto de "pinça" (pinch zoom). A resposta da interface é lenta nesses casos, mas ao menos funciona.
O design “iPad genérico” causa um problema: com exceção dos tablets com Honeycomb, todo aparelho Android tem ao menos três "botões" físicos: Home (Tela Inicial), Menu e Back (Voltar), essenciais para navegar pela interface. Geralmente eles ficam alinhados sob a tela, para fácil acesso. No Smart Tablet eles estão espalhados: o botão abaixo da tela (que, pela lógica, deveria ser “Home”) é Back, o botão Menu fica na lateral direita e não há um botão Home, substituído por um ícone na barra de status no topo da tela. É um layout incômodo e completamente fora do padrão, com o qual é necessário tempo para se acostumar.
Quando ouvi falar pela primeira vez sobre este aparelho, um detalhe chamou a atenção: o site do fabricante diz que ele é equipado com um processador de 1.1 GHz. Entretanto, logo descobri que na verdade o processador é de 800 MHz (WM8650, da VIA), auxiliado por um DSP (para decodificar áudio e vídeo) de 300 MHz.
Quem conhece um pouco de informática sabe que não se pode “somar” o clock de diferentes processadores, e que clock não é garantia de desempenho. Foi o que vi na prática.
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Portas e conectores, como o slot para cartões microSD, ficam na parte de baixo
Desempenho
Fiquei severamente desapontado com o desempenho do Smart Tablet no dia-a-dia. Voltando à analogia com os carros, é claro que não esperava uma Ferrari, mas pelo menos algo digno de um Gol 1.0. Em vez disso, encontrei um velho Lada.
A boa notícia: dá para ler eBooks e navegar na web. Sites cheios de imagens como o nosso próprio ou portais como o UOL carregaram sem problemas, embora a rolagem das páginas seja um tanto lenta. 
Já na multimídia, consegui tocar vídeo em Flash no YouTube (na resolução 360p) em tela cheia, mas tive problemas com conteúdo local. Nenhum dos nossos videoclipes de teste tocou no aparelho, independente do formato (DiVX, MP4, MKV, etc) ou resolução. Nem mesmo um clipe em MP4 a 480 x 800 pixels (resolução nativa da tela), que toca em praticamente qualquer aparelho Android que já passou pelo PCLab, tocou direito: ele engasgou depois de alguns minutos e o player fechou inesperadamente.
E nem pense em jogar: Angry Birds, um dos jogos mais populares da atualidade, ganhou uma dimensão completamente nova. O desempenho foi tão fraco que o jogo se desenrolava literalmente quadro-a-quadro. Parecia que os pássaros, cansados de se irritar, tomaram uma dose cavalar de tranquilizantes.
Software
O sistema operacional do Smart Tablet é o Android 2.2, o mesmo usado em muitos smartphones. Há pouco software pré-instalado, e parte dele é redundante: são duas lojas de aplicativos (o Android Market e o App Market) e três navegadores web. Além do Opera Mobile há mais dois chamados simplesmente de “Navegador”. Um deles é o padrão do Android e o outro, que não identificamos, tenta imitar o visual do Google Chrome no desktop.
Um problema que encontrei é que parte do software pré-instalado não funciona. É o caso do cliente Youtube (que não é o oficial do Android), que é incapaz de encontrar qualquer vídeo no site, seja na busca ou seleção por categorias.
Também tive problemas com o cliente Skype, que é uma versão originalmente distribuída em smartphones da operadora inglesa Three e funciona de forma peculiar: quando você faz uma chamada ele disca para um número local, que encaminha a chamada via VoIP até o destino. Por isso o aplicativo pede o seu número de telefone no primeiro uso. Mas como o Smart Tablet não tem hardware de telefonia, o app não consegue discar e... adivinha? Simplesmente não funciona.
Bateria
Carreguei a bateria completamente, ajustei o brilho da tela para 25%, conectei o Smart Tablet à uma rede Wi-Fi e... ele durou duas horas e vinte minutos, com a maior parte deste tempo simplesmente parado sobre a mesa, com um site aberto no navegador. 
Note que a maioria dos tablets que testamos tem autonomia de no mínimo seis horas e meia, como no caso do Motorola Xoom. Isso conectado a uma rede Wi-Fi, com brilho da tela em 50% e reproduzindo vídeo em alta-definição. E o Xoom tem uma tela muito maior.
Mas como isso também implica mais espaço para uma bateria maior, a comparação mais justa seria com o Galaxy Tab original da Samsung, que chegou a 10 horas. Isso com um processador mais rápido (Samsung “Hummingbird” de 1 GHz), tela muito mais brilhante e com maior resolução (1024 x 600 pixels, embora ainda com 7”), GPS ligado e conectado a uma rede 3G, que consome mais energia que o Wi-Fi.
A autonomia é pior ainda se considerarmos o tempo de recarga, que segundo o manual deve ser de “pelo menos 4 horas” (5 se você usar o tablet enquanto carrega). Ou seja, para recarregar a bateria é necessário o dobro do tempo que você leva para esgotá-la. E há um agravante: a traseira do tablet esquenta, e muito, durante a recarga. Segundo o manual isso é “normal” e não há riscos de danos ao aparelho, mas minha experiência diz que bateria quente demais é sinônimo de problemas. 
Veredito
A PCWorld não dá notas aos aparelhos analisados, mas não é necessário muito esforço para imaginar qual seria a do Smart Tablet se resolvêssemos abrir uma exceção. O preço pode parecer atraente, mas a quantidade de ressalvas é inaceitável. Evite a todo custo.
Smart Tablet Serie T7
Fabricante:Digital Life
Pontos fortes:
Tela é multitoque 
Suporta modems 3G, embora com adaptador e apenas modelos específicos
Pontos fracos:
Péssima autonomia de bateria 
Longo tempo de recarga 
Baixo desempenho 
Alguns apps não funcionam
O preço pode parecer atraente, mas o Smart Tablet Serie T7 da Digital Life é uma completa decepção. Se você procura um tablet Android de baixo custo segure seu dinheiro, pois este não é ele.
Preço:R$ 699 (preço sugerido pelo fabricante)

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