Pular para o conteúdo principal

Será que navegamos na velocidade que contratamos?

Provedores de banda larga: será que navegamos na velocidade que contratamos?

Por Flávio Amaral


Ao ler as recentes notícias sobre proibição da Anatel da Telefonica disponibilizar novos acessos ao seu serviço de banda larga Speedy, muitos devem ter se perguntado porque isso aconteceu. A resposta pode ser que o planejamento de capacidade da empresa não está de acordo com a expansão do serviço, impactando a qualidade do mesmo para os usuários.

Muitos clientes de provedores de banda larga, que contrataram velocidades de acesso de 1,2,4 ou 8Mbps, provavelmente nunca viram suas velocidades de download ou upload próxima da capacidade contratada. É muito comum que ela fique variando muito e atingir a velocidade ideal é a excessão e não a regra.

Existem várias razões para isso, uma delas é que um provedor nunca compra a capacidade de transmissão de dados igual ao número de seus usuários multiplicado pela velocidade de acesso de cada um. Assim, se um provedor tiver 1 milhão de usuários com conexão de 1Mbps, ele não irá comprar um canal de transmissão de 1Tbs (um terabit por segundo), o que equivale a multiplicar 1 milhão vezes 1Mbps. No lugar disso, ele faz algumas contas usando estatísticas de utilização dos clientes e estuda o perfil de uso da rede para dimensioná-la, pois dificilmente todo mundo fica conectado ao mesmo tempo usando toda a velocidade contratada. Como a carga tributária no Brasil em telecomunicações é uma das mais altas do mundo, chegando a 43,6% (isso mesmo, 43,6% do que pagamos nas nossas faturas é puro imposto), o provedor tem que fazer uma conta muito equilibrada se quiser ter lucro e prestar um bom serviço. Os problemas dessas empresas não acabam por aí, pois os equipamentos para ampliar a capacidade da rede são normalmente importados e o somatório dos impostos para comprá-los chegam a quase 100% (ou mais em alguns casos). Ou seja, pagamos aqui o dobro do que se paga nos Estados Unidos, em dólares. Como o provedor precisa recuperar o investimento e dar lucro, a consequência disso são serviços mais caros e ás vezes ruins.

Outro fator que deve ser levado em consideração é que em alguns provedores, apenas 5% dos usuários usam 50% da capacidade total de transmissão do provedor. Essas pessoas ficam usando aplicações peer to peer como (bittorrent, eDonkey, Soulseek, Gnutella, Kazaa, eMule, etc) e baixam músicas e, ás vezes, filmes inteiros. Elas pagam as faturas de suas velocidades e é dever do provedor prestar o serviço. Por outro lado, os outros 95% estão mais preocupados em visualizar páginas, enviar e-mails e conversar nos comunicadores instantâneos. E querem acesso rápido também.

Para não deixar de atender esses 5% dos clientes e manter os outros 95% satisfeitos, os provedores se armam de cláusulas financeiras e ferramentas tecnológicas para manter sua rede com uma velocidade aceitável para todos. Do lado financeiro, a AOL nos Estados Unidos, estuda cobrar a mais de quem baixa ou envia muitos dado. Começando a cobrar 20 dólares por mês com limite de transmissão de 5GB até 65 dólares para o limite de 40GB. Nada mais justo para quem quer usar sua conexão simplesmente para baixar e enviar coisas. Outro provedor de lá,a Comcast, colocou um limite máximo de transmissão por usuário de 250GB por mês e ponto final.

Para atender a todos os perfis de uso dos seus clientes, o provedor tem que monitorar constantemente a rede e fazer um planejamento cuidadoso de expansão da mesma para não deixar a qualidade cair. Isso precisa ser feito frequentemente e os aumentos de capacidade devem ser feitos nos prazos corretos. Querer aumentar a margem de lucro pode resultar em um serviço sofrível e em perda de usuários para os concorrentes.

Por outro lado, o governo, que fiscaliza esses serviços pela agência reguladora Anatel, deveria desonerar a carga tributária do setor para que essas expansões sejam mais baratas para os provedores. Isso também refletiria em mensalidades mais acessíveis para os usuários. Já tivemos um exemplo de desoneração tributária em tecnologia que deu certo. Microcomputadores e laptops ficaram mais baratos e, com isso, gerou-se mais empregos, o contrabando diminuiu e quem nunca teve um computador pode comprar o seu. A inclusão digital seria o casamento dessas duas desonerações, pois um computador sem conexão, atualmente, não passa de uma máquina de escrever moderna. Vale lembrar que os maiores beneficiários disso somos nós, usuários, portanto devemos tomar frente e cobrar do governo a desoneração do setor e exigir bons serviços dos provedores.

Para quem quer testar a velocidade de acesso do seu provedor, os links abaixo executam testes:

- www.speedtest.net/

- www.digitallanding.com/high-speed-internet/article_display.cfm/article_id/4458

- http://internet-speed-test.broadbandinfo.com

- www.digitallanding.com/high-speed-internet/article_display.cfm/article_id/4458

- www.bandwidthplace.com

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“internet zumbi”

 A ascensão do slop, diz ele, transformou a rede social em um espaço onde “uma mistura de bots, humanos e contas que já foram humanos, mas não se misturam mais para formar um site desastroso onde há pouca conexão social”. Nick Clegg, presidente de assuntos globais da empresa-mãe do Facebook, Meta, escreveu em fevereiro que a rede social está treinando seus sistemas para identificar conteúdo feito por IA. “Como a diferença entre conteúdo humano e sintético fica turva, as pessoas querem saber onde está o limite”, escreveu ele. O problema começou a preocupar a principal fonte de receita da indústria de mídia social: as agências de publicidade que pagam para colocar anúncios ao lado do conteúdo. Farhad Divecha, diretor-gerente da agência de marketing digital AccuraCast, com sede no Reino Unido, diz que agora está encontrando casos em que os usuários estão sinalizando erroneamente os anúncios como slop feitos de IA quando não estão. “Vimos casos em que as pessoas comentaram qu

A MENTE ARTÍSTICA

Em seu novo livro, as autoras Susan Magsamen, fundadora e diretora do International Arts + Mind Lab, e Ivy Ross afirmam que fazer e experimentar arte pode nos ajudar a florescer Quando Susan Magsamen tomou a decisão de terminar seu primeiro casamento, ela enfrentou dias emocionais e difíceis trabalhando não apenas em seus próprios sentimentos, mas os de seus filhos pequenos. Foi preciso um pedaço de argila de uma criança para mudar tudo isso. Como ela relata em seu novo livro, Your Brain on Art: How the Arts Transform Us (Random House, 2023), ela "começa a esculpir espontaneamente. O que emergiu foi uma estátua de uma mulher de joelhos, seus braços levantados com as mãos estendendo o céu e sua cabeça inclinada para trás, soluçando em total desespero sem palavras." Logo, ela escreve, ela mesma estava em lágrimas. Podemos reconhecer essa ação como um exemplo de uso de nossa criatividade para expressar e liberar emoções reprimidos. Mas como Magsamen, fundadora e diretora executi

Cibersegurança: Confiança zero… desconfiança por omissão

  Atualmente, todas as empresas têm presença digital. Embora este facto traga inúmeros benefícios, também acarreta uma série de riscos. Os cibercriminosos estão a encontrar cada vez mais formas de contornar as medidas de segurança e aceder aos dados. Se a proteção não for suficientemente forte, os dados das organizações, dos seus clientes e dos seus parceiros podem ser comprometidos, com consequências terríveis para as empresas. A crescente digitalização, juntamente com a evolução das táticas dos cibercriminosos, está a resultar num aumento dos incidentes de cibersegurança. Esta tendência preocupante é demonstrada no último Relatório de Violação de Dados, realizado pelo Internet Theft Resource Center (ITRC), que regista 2.365 ciberataques em 2023 que afetaram mais de 300 milhões de vítimas. Com este conhecimento, é essencial que as empresas tomem medidas e protejam os seus sistemas para evitar que utilizadores não identificados acedam a informações sensíveis. Só assim será possível red